segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Daqui pro futuro

Depois do livro escrito, publicado e lançado, o que vem agora?

Bom, tomara que mais poesia :-)

Prentendo postar agora poesias que não estão no livro,
algumas já estão feitas e outras espero que surjam ao
longo do tempo.

Mas antes de começar, acho que é bom dar uma pausa
de mim mesmo. Coloco aqui uma poesia de Daniel Filipe,
um poeta de Cabo Verde que conheci no
Jornal de Poesia
:


Romance de Tomasinho Cara-Feia

Farto de sol e de areia
Que é o mais que a terra dá,
Tomasinho Cara-Feia
vai prá pesca da baleia.
Quem sabe se tornará?

Torne ou não torne, que tem?
Vai cumprir o seu destinho.
Só nha Fortunata, a mãe,
Que é velha e não tem ninguém,
Chora pelo seu menino.

Torne ou não torne, que importa?
Vai ser igual ao avô.
Não volta a bater-me à porta;
Deixou para sempre a horta,
que a longa seca matou.

Tomasinho Cara-Feia
(outro nome, quem lho dá?),
farto de sol e de areia,
foi prá pesca da baleia.

— E nunca mais voltará!

Daniel Filipe

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Lançamento e Agradecimento


Este é um post de agradecimento.
Queria agradecer a todo mundo que apareceu
no lançamento e tornou o momento melhor.
Muito obrigado aos que vieram de longe e aos que
vieram de perto.

Coloquei as fotos aqui:
http://picasaweb.google.com.br/sqmedeiros/LancamentoUmLugarAzulTimbre#

Um abraço a todos!

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Mais novas ainda

Lembrando que amanhã (1/12) será o lançamento
do livro, a partir das 19h, na Livraria Timbre, no
Shopping da Gávea.

O Velhinho

O velhinho,
tão elegante quando jovem,
não acompanhou as tendências
e já não anda mais na moda.

A sua meia azul
se estica quase até o joelho,
e não combina com a camisa
que foi de uma outra estação.

Entre tantos cabelos brancos,
um se encontra mais arrumado,
porém, não consegue andar sozinho,
nem escolhe as suas roupas.

Sorte que tem uma filha
que o veste sempre bem,
e também tem muitos netos,
que lhe dão meias bonitas de presente.

Sérgio Medeiros

sábado, 21 de novembro de 2009

Mais novas

  Quando eu encontrar você

Vai ser o dia mais bonito
quando eu te conhecer.
Vai ser num dia desses em que a gente
já tá até meio cansado de viver.

Mas você vai logo fazer passar
o córrego, o cansaço, a tristeza.
Nem sei como vai fazer isso,
nem como as coisas vão acontecer.

Também não imagino como vou gostar
tanto assim do seu cabelo,
que talvez seja longo, talvez seja curto,
quem sabe loiro, quem sabe ruivo.

Ah, mas vou gostar tanto dele
e de você, mais até do que de mim.
E tudo, vai começar assim,
num dia desses, em que a gente
já tá até meio cansado de viver.

Sérgio Medeiros

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Mais velhas

Creio que é tempo de falar do livro e das suas partes.
As poesias do livro estão divididas em três partes:
mais antigas, mais novas e mais novas ainda.

Para quem gosta de números, a primeira parte tem
37 poesias, a segunda 15 e a terceira 32.

A poesia de hoje é da primeira parte do livro.

Fábula

Não deu em nada
a infrutífera batalha
que nossos homens travaram
em algum povoado distante.

Consta que morreram milhares,
vários inimigos feridos.
Quantas viúvas,
quantas pensões.

Marido herói,
vai render histórias para os filhinhos.

Quando vierem os netos,
já será uma fábula.

Sérgio Medeiros

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

A materialização de um lugar azul

Senhoras e senhores,

gostaria de informar que este lugar azul vai agora
existir também na forma de um pequeno e simpático
livro, azul, lógico :-)

O lançamento será no dia 1 de dezembro, 19h,
na Livraria Timbre (Shopping da Gávea).
Sintam-se todos meus convidados :-)



quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Lá vem a poesia soprando

A poesia passa
como um vento
que varre
as folhas das árvores.

Algumas se deixam levar
e vão balançar
ao sabor do vento,
andar por muitos lugares
e quem sabe
nunca voltar.

Outras ficam por lá,
e caem no chão,
tendo um breve momento
a saborear.

Outras folhas
nunca caem.
E contam muitas histórias
de quem ficou e partiu.

De quem o vento levou,
de quem o vento deixou,
daquela noite bonita,
num dia que fez tamanha ventania,
que até a folha mais firme
se deixou levar pela poesia.

Sérgio Medeiros

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Um dia para mandar notícias

De tão longe

O dia talvez seja de tédio,
de tépidos raios de sol.
Talvez seja um dia
dos homens verem futebol,
das mulheres ligarem pra mãe,
contar como vai a vida,
dizer que o dinheiro vai dando,
e fazer planos pra quando voltar.

Mas não se pode contar
tudo para as mães,
elas ficam preocupadas,
e uma ligação de tão longe
não é pra deixar ninguém preocupado.

É pra dizer que se vai vivendo,
e que se está com saudades.
É pra sorrir das pequenas aporrinhações
que sua mãe conta e que você,
se estivesse lá, ficaria irritado.

Mas uma ligação, de tão longe,
não é pra deixar ninguém irritado,
é pra dizer coisas boas,
e tentar ter a ternura,
que já não temos, quando tão perto.

Sérgio Medeiros

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Na companhia da solidão

Comigo a solidão

Nesse momento,
eu manteria
comigo e em mim
essa larga solidão.

Ela não me deixa triste,
não me faz voar,
não me faz dormir.

É tão grande.
É tão inútil.
Explica-se por si mesma.

Não a almejo nem a evito,
apenas com ela permaneço.

Ela é grande e me enche.
Quiçá, me completa.
Olho-a, como um amigo,
desconfiado de sua simpatia.

Amanhã, talvez,
nos daremos os braços,
ganharemos dinheiro, ternura e leite.
Amanhã...

Sérgio Medeiros

domingo, 27 de setembro de 2009

Mudando o autor, mas não a cor

Entre os meus poetas preferidos está Carlos Pena Filho, que nasceu no Recife e morreu aos 31 anos. Conheci as suas poesias através de Inês, que era minha amiga do canal #poesia do IRC. Carlos Pena Filho gostava de pintar as suas poesias de azul e muito mais.

Soneto do desmantelo azul

Então, pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas,
depois, vesti meus gestos insensatos
e colori as minhas mãos e as tuas.

Para extinguir em nós o azul ausente
e aprisionar no azul as coisas gratas,
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas.

E afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.

E perdidos de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul. Azul.

Carlos Pena Filho

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Entre calmo e apressado

Sempre compro um pão quente

Sempre compro
um pão quente
pra comer
com o café.

Sempre passo,
apressado,
a manteiga.
Já com medo
de o pão
logo esfriar.

Sempre gosto
de estar perto
de você.

Quando tenho,
entre os dedos,
o seu cabelo,
o meu desejo,
sempre e sempre,
é de nunca
mais perdê-lo.

Sérgio Medeiros

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Um passeio de carroça

Carroças

No meio do tempo
e da sua pressa mesquinha
alguém cumpre sua missão,
conduzindo uma velha carroça
com uma mulinha velha
cansada de tanto apanhar.

Não carece, fazer sentir
o chicote mais.

Os condutores, são sujos,
talvez bem velhos,
talvez bem novos,
mas todos pobres.

Levando o destino,
ganhando o frete, devagar.
Eu pintaria todas as carroças,
para torná-las carruagens.

Sérgio Medeiros

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Sobre coisas que guardamos

A moça se apressou

A moça se apressou
e conseguiu
pegar o ônibus errado.

Não gostava das letras,
que nunca viu de forma clara.

Sempre aquela chatice,
aquela vergonha,
que ela sempre guardou tão bem.

Sérgio Medeiros

domingo, 16 de agosto de 2009

Mais um pouco

Algumas pessoas passam correndo, outras tropeçam e ficam.


Mais um pouco

Choveu tão rápido,
que mal as poças se formaram,
já estavam começando a secar.

Mas ficou o cheiro da chuva,
e um tímido arco-íris no horizonte
lembrava que ela caiu há pouco.

E assim me lembrei de você,
de quem eu quase não ouço,
mas de quem eu gostaria
de ser sempre mais um pouco.

Sérgio Medeiros

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Alguém a viu passar?

Felicidade

Dos muitos modos
de se buscar a felicidade,
quase sempre se tenta achá-la,
naquele copo, sempre cheio,
de alguma coisa alegre.

Tenta-se, ainda, encontrá-la
em alguma mulher,
sempre disposta
a dar prazer.

Talvez se busque em um passeio longo
que passe por lugares bonitos,
cheios de luzes,
ou em alguma palavra quente,
que seja lida, que seja dita.

O que se encontra,
às vezes, é um botão,
às vezes, um rato.

Sérgio Medeiros

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Adocicando um pouco as coisas por aqui

Quando vejo a palavra quindim, acabo sempre lembrando de Mário Quintana e do seu famoso café.


Quindim

Não fique triste, meu bem,
pois eu não choro
quando digo até logo.

E triste mesmo
é não poder andar de azul,
e só ter um sapato furado,
que dá logo um calo no pé.

Eu tenho uma bicicleta
e te levo para passear.

Só não quero, meu bem,
que fique triste assim.
E lembre-se,
que doce bom mesmo
é quindim.

Sérgio Medeiros

quarta-feira, 22 de julho de 2009

O espetáculo vai começar



Espetáculo

Quando a luz vermelha acende
e os carros param no sinal
procurando seu lugar,
os motoristas se ajeitam no assento
pois o espetáculo, já vai começar.

Os intrépidos malabaristas
se apresentam primeiro
com suas bolas de tênis
de um amarelo
já quase sem cor.

No intervalo, oferecem balas
colocadas apressadamente
em cada retrovisor.

Depois vem o número chato
que usa espuma e sabão,
e que ninguém parece gostar.

Com poucos segundos para o fim,
começa o último ato,
com aquela moça,
de carnes magras,
que brinca com o fogo
e depois o engole.

Bravo, bravo! (alguns diriam)
Contudo, não há aplausos...
A luz verde se acende,
e o público vai-se dirigindo,
embora sem saber,
para o próximo espetáculo.

Sérgio Medeiros

terça-feira, 14 de julho de 2009

Para quem quiser pegar

De alguns papéis inúteis, também se faz poesia.

Panfletos

Há um toque de poesia
na mulher parada,
que não é bonita,
e não chega a ser feia,
que distribui
panfletinhos inúteis
e desinteressantes
aos transeuntes.

E a poesia se encontra,
a cada encontro, frustrado,
da sua mão tímida
com os rostos apressados.

Sérgio

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Vamos ao que importa

O que importa

O que importa
não são os dias,
não são as horas,
nem as suas poucas realizações.

O que importa
não são aqueles saltos,
tão altos,
que não andam,
desfilam,
e que você não alcança.

O que importa,
um tanto, um pouco,
talvez seja a luta
e as vãs tentativas
de algum débil esforço.

Mas o que reside mais alto,
acima da chuva fria
que cai na tarde de sábado,
e move, não uma montanha,
pois elas são grandes demais,
mas o destino de um homem,
o que realmente importa
é não ser vencido.

Sérgio Medeiros

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Sobre sonhos e adornos

Alguns sonhos, talvez existam para não serem realizados. Mas são tão bonitos!

Adorno

Naquela manhã,
já não tinha o mesmo,
o largo sorriso.

Nem fazia o café
da mesma maneira.

Os cabelos também
pareciam desalinhados
sob uma nova forma.

Mas os trajes diziam
que era aquela pessoa
cansada, que se deitou
ontem à noite,
após rabiscar um velho caderno
e passar a limpo vários sonhos.

Tomada de certo espanto,
ela viu que eles continuariam sonhos,
e enfeitariam outras existências.

Ao ir dormir, ela retirou aquele adorno.
Estava cansada.
Queria um sono puro.

Sérgio Medeiros

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Agora falando de rosas

Bebi o dia

Bebi o dia,
bebi a noite,
sorvi em suaves goles
todo o copo da esperança.

Pensei em ti de dia,
escrevi carta à tarde,
e sonhei que contigo
dormia toda a noite.

Fiquei assim um dia,
fiquei assim outro dia,
esvaziei tudo que tinha,
até um restinho de alegria.

Agora ando meio triste,
não dou comida ao cachorro,
não escovo os dentes direito,
nem me animam as moças que passam.

Me sugeriram um passeio,
uns dias de veraneio,
remédios para o espírito,
e procurar um curandeiro.

Decidi plantar um canteiro,
e ter rosas no jardim.
Agora tenho a beleza que quero
bem aqui perto de mim.

Sérgio Medeiros

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Outra chuva

Gosto de olhar a chuva caindo. Algumas pessoas correm, outras não dão bola. Para alguns, chove todo dia. Para outros, chove de vez em quando. Para outros mais, quase nunca chove.

Saudade da Chuva

Sinto saudade da chuva
como de um passatempo.
Não planto, não colho,
não anseio sofregamente.

Seria um encontro bom,
sem mãos frias,
angústias, exigências mútuas,
decepções mútuas.

Uma relação calma,
com pequenas agitações,
como ondas de lagoa,
como um sono bom.

Sérgio Medeiros

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Ainda falando sobre cores

Um Pouco de Cor

Lá por algum dia
em que fazia sol ou chovia,
eu ganhei um pouco de cor.

No começo, foi azul,
que depois tornou-se blue.

Então pintei o azul de vermelho,
pra descobrir os teus segredos
e não me ver como eu vejo.

Assim ganhei esse verniz
rubro, ou encarnado,
como diziam no passado.

O azul não preciso mostrá-lo,
pois continua sempre em mim,
às vezes, azul, às vezes, blue.

Sérgio Medeiros

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Sobre Cores e Dragões

Às vezes um poema nasce de outro, que você lê e acha bonito. A idéia então fica circulando e, com alguma sorte, um dia ela se transforma em uma poesia. O desejo de fazer esta poesia veio depois de ler uma no blog As Outras Palavras: http://asoutraspalavras.blogspot.com

Sobre Cores e Dragões

Fui na terra dos dragões
procurar uma princesa.

Dragões azuis,
guardavam princesas louras.

Dragões verdes,
as ruivas.

E dragões amarelos,
as de cabelo cacheado.

Parei um dragão vermelho
e perguntei qual deles
seria mais difícil vencer:

- Os azuis, sem dúvida!
ele me respondeu

Quando vi um dragão preto,
que passava despreocupado,
fiz a mesma pergunta:

- Não se meta com os verdes,
disse-me o dragão preto,
pois são cobras com asas.

E por fim um dragão branco,
me aconselhou aos amarelos evitar.

Peguei então a minha lança
e fui saindo cabisbaixo,
quando uma grande chuva azul
começou a cair.

Os dragões amarelos,
que andavam sem guarda-chuva,
ficaram todos verdes
e foram cuidar das princesas ruivas.

Escolhi então uma princesa de belos cachos
e fui viver feliz no seu palácio.

Sérgio Medeiros

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Mais chuva

Chegue na chuva

Chegue na chuva
e sente molhado
joelho dobrado
sapato encharcado

o olhar abobado
o café encorpado
as mãos abraçando
a xícara quente.

Não se preocupe,
não vem resfriado,
mas bate uma tristeza
que é um bocado.

E bate uma saudade
que nem cabe no peito,
e escapa do olhar,
mas fica caindo
com os pingos da chuva
que caem e trazem
a saudade do azul.

Sérgio Medeiros

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Fim de semana chegando

De quase toda maneira

De quase toda maneira
laranja eu compro na feira
e banana nunca aos sábados
mas às terças e quartas-feiras.

Com quase toda certeza
há noites de sexta-feira
em que você precisa ter
algum dinheiro pra cerveja.

Noutras quase sempre vezes
é melhor não descer a escada,
vou servir chá aos meus fantasmas
e ver a chuva da sacada.

Sérgio Medeiros

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Açude

Açude é uma palavra que faz parte de mim. Onde eu nasci, em época de inverno, quando chovia vinha logo a pergunta: E o açude? Tá cheio?
Para mim, um açude diz muita coisa.

Pequenos Relatos

Confesso que estou
um tanto quanto
desanimado.

Deve ser
coisa do tempo
que anda frio e fechado.

Mesmo assim,
não chove
para molhar um pouco
o velho açude,
que já foi grande
e hoje anda pequeno,
que nem gente velha,
que vai minguando com o tempo,
até ficar sem importância.

O velho açude cheio
já é quase uma saudade.

Mas saudade não é açude,
que vai secando quando não chove.

Em todas as estações,
a água, para a fonte da saudade,
sempre e calmamente escorre.

Sérgio Medeiros

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Sobre os homens

As pessoas estão todas por aí, mas quem consegue achá-las?

Busca

E num relance
você não pode hesitar.

Não perca a chance,
e se deixe
perder um pouco também
junto aos homens.

Procure-os por toda parte.
Anúncios, cartazes.
Grandes luzes que
acendem e não acendem.

Espere-os sob a chuva,
na porta do teatro,
e na esquina da rua,
sob o poste apagado.

Na cozinha de casa,
com uma xícara de leite quente.

Se os encontrar,
não diga nada.

Sérgio Medeiros

terça-feira, 14 de abril de 2009

Sala de Espera

Nada como uma ida ao dentista ou ao cabeleireiro (meu pai diria barbeiro) para ler revistas de fofoca e se atualizar sobre o mundo das celebridaes.

Sala de Espera

Numa dessas salas
em que todos esperam algo,
sempre há um cheiro de tédio
e revista de fofoca.

E há pessoas com seus rostos
enigmáticos, que parecem
querer não demonstrar nada,
e dizer apenas que estão aguardando,
sem vontade, sem pressa,
sem receio e nem anseio.

Mas, um dos rostos descuida-se
e, num movimento rápido,
deveras revelador,
deixa ver uma meia infantil,
dessas que eu compraria,
se tivesse uma filha de seis anos.

Fico então a imaginar
os filmes que esse rosto vê,
e os livros que gosta de ler.
Agora, somos quase íntimos.

Sérgio Medeiros

terça-feira, 7 de abril de 2009

Super pra cima

Andei consultando o caderno em busca de algo mais "animado" para colocar aqui no blog, embora deva confessar que não foi uma missão muito fácil.
Bom, abaixo segue a escolhida :-)


O Mar entre as Montanhas

O mar entre as montanhas
é quase sobre.

Num lado,
se sobe ao céu.

No outro,
se desce ao mar.

Entre subir e descer,
é uma delícia continuar,
seja descendo a serra,
seja subindo ao mar.

Os pássaros estão indecisos,
esperam e pensam um pouquinho
para aonde querem voar,
se para cima da serra,
ou para dentro do mar.

Um peixe vem se queixar
que, se pudesse também voar,
não subiria as montanhas,
nem desceria ao mar,
mas pousaria na praia
e ficaria a descansar.

Sérgio Medeiros

domingo, 29 de março de 2009

Sobre grandes e pequenas

A maioria das minhas poesias, cabe muito bem em uma página de caderno. Fazer algo com mais de 1 página é quase impensável para mim. Esta é a poesia que rendeu mais linhas, deu mais de 1 página até no computador!!!


Noite de Vendas

A menina
morena e pobre
sai à noite
junto com a mãe.

Andando pelas calçadas
por onde anda gente bonita,
elas tentam timidamente
vender alguma coisa.

Mas, pobres mulheres,
sua mercadoria
não desperta
interesse
na gente bonita,
produzida, que passa.

Entre negativas,
a mãe matuta um pouco...

E recebe da brisa,
além de um
possível resfriado,
um pouco de ternura.

Sua filha,
que brilho ela tinha...
E nunca que
havia reparado.

E tão frágil ali,
talvez já com sono,
e tão tímida
para conseguir vender algo.

Quantos mimos
podia ela oferecer
àquele serzinho
moreno?

A mulher não
contém os soluços,
não contém as lembranças,
nem os seus olhos
contêm as lágrimas,

que começam a
cair agora,
como uma
chuva grossa,
de pingos gordos.

Segue um abraço,
que a filha,
não entende.
A noite continua,
e a caça às moedas
também.

Sérgio

domingo, 22 de março de 2009

Sorvete

Pavê é meu sabor de sorvete preferido.


Para Não Gostar de Você

Para não gostar de você,
mudei as cores da parede
e os sabores de sorvete.

Depois, troquei os passos
que costumava andar aos sábados.

Fugi para o horizonte,
que parecia ser bem longe,
sem os seus livros na estante.

Dei voltas no mesmo lugar,
não dormi e fui pro bar.
É assim que tenho feito
para não gostar de você.

Sérgio Medeiros

quinta-feira, 12 de março de 2009

Às vezes é difícil

Ah, tem tanta poesia promissora que morre no começo do segundo verso.

Difícil Poesia

Às vezes,
como é difícil
fazer poesia.

De tantas palavras
nenhuma parece boa,
de tantas frases,
nenhuma parece um verso.

De tantas histórias,
alguma lembra poesia,
mas ninguém parece
saber contá-la.

Sérgio Medeiros

quinta-feira, 5 de março de 2009

O Guarda

Quando eu passo e olho os guardas da rua, quase sempre eles estão com um ar de monotonia (se é à noite eles estão dormindo :-)), sentados na cadeira, esperando alguma coisa acontecer. Em uma rua calma, o guarda só espera o tempo passar.


Para aquele guarda

Para aquele guarda
que toma conta da rua,
o tempo passa
como alguém que quer ficar.

As casas,
quase todas de muro alto,
não permitem adivinhar
o que se passa ali dentro,
onde a vida, pensa o guarda,
deve ser tão boa.

Afinal, pensar,
mesmo que em nada,
é o que mais se faz,
além de olhar a rua mansa.

Um carro passa
e arrasta consigo
um pouco da monotonia.

Nosso guarda se espreguiça
e mira o relógio
com um fingido interesse,
sem prestar atenção nos ponteiros.
O que ele deseja
não tem hora pra acontecer.
Mas o guarda,
espera e torce:
ah, se Rosa aparecesse…

Sérgio Medeiros

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Estação Central

Diálogo entre passageira e motorista:

Passageira: - Bom dia!
Motorista: - Bom dia!
Passageira: (Tom acusatório) Você não está me reconhecendo?
Motorista: (Dando de ombros) Não senhora.
Passageira: (Esboçando indignação) Mas eu pego esse ônibus todo dia!
Motorista: (Suspirando) Minha senhora, essa linha tem 42 carros.


Estação Central

Os ônibus formam uma longa fila
e abrem suas portas
para os recém passageiros,
que mal embarcaram
e já estão ávidos por chegar

Fosse noite passada
e os passageiros estariam todos molhados
com a grande chuva que caiu

Mas hoje, na estação central,
eis que estão só cansados
e o uniforme de ontem ganhou folga,
passou o dia no varal.

De mais a mais,
não é uma simples chuva
que vai parar o progresso
ou impedir o regresso.

Sérgio Medeiros

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Sobre títulos

Terminada uma poesia, chega a hora de dar um nome.

Um maneira de dar um nome é não dando um nome, apenas números como "Soneto XXXIII".

No começo eu sempre tentava pensar em um título. Depois comecei a ter uma falta de idéias para os títulos e a me perguntar se os títulos que eu estava dando eram bons.

Aí me dei conta de uma terceira estratégia, onde o título da poesia é simplemente alguns dos seus primeiros versos. Achei esse um bom meio termo entre simplesmente enumerar e inventar um título.


Por uns dias de verão

Por uns dias de verão
eu mudei de estação
e até por alguns passos
me arrisquei na contramão.

Deixei de levar comigo
as mesmas coisas costumeiras
e até mesmo pimentão
já não compro mais na feira.

Desisti de ir na missa
e recorri a uma rezadeira
que promete me curar
usando ramos de oliveira.

Depois comprei um cão,
para servir de companhia
enquanto o tempo não muda
e cai uma garoa fina.

Eu sento e assisto TV,
vejo filmes de ação,
espero enquanto não chegam
os meus dias de verão.

Sérgio Medeiros

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Dia chuvoso

Hoje foi um dia muito chuvoso.



Lembranças

A saudade
nem sempre escolhe lembranças bonitas.

Ela escolhe um rato,
Uma noite fria,
no escuro...

Às vezes
recorda um córrego sujo,
E meninos sujos,
correndo na chuva.

Sérgio Medeiros

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Adeus Pavão Dourado

Em algum dia de domingo eu vi o programa Caminhos e Parcerias da TV Cultura. O tema era trabalho infantil e uma música da trilha sonora que ficou na minha cabeça se chamava Adeus Pavão Dourado.

Este é o link para o programa desse dia:
http://www.tvcultura.com.br/caminhos/11sisal/sisal1.htm

Adeus Pavão Dourado

A menina, sem bonecas,
brincava então com pedrinhas.
A maior delas era o pai,
a mais clara a mãe,

e a menor,
era ela mesma.

A pedrinha pequena
tinha as mãos calejadas
e não devia
ter que trabalhar.

Era uma pedrinha
de oito anos,
que passeava
com a pedra grande,
de bicicleta,
aos domingos.

Ali a pedrinha sorria
e até se esquecia,
de lembrar,
que nem é bom lembrar
certas coisas.
Que mal dormir ela podia,
porque amanhã cedo ela ia
bater pedra com um martelo
para ganhar uma moeda
quando findasse o dia.

Sérgio Medeiros

sábado, 31 de janeiro de 2009

O que falta

Às vezes não nos falta muito, mas parece que sempre achamos que falta mais do que um pouco.

Completa

Alguns diriam
que ela era
uma mulher completa

Outros alegariam
que faltava-lhe
uma perna

Em casa,
após vestir a calça,
ela dobrava com esmero
o lado da perna vazia

A mulher,
completa ou incompleta,
dava seus passos
de muleta

No domingo,
ela ia ao cinema
e pensava como seria a vida
na próxima segunda-feira.

Sérgio Medeiros

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Soldadinho

Eis que me encontro aqui diante da complexa tarefa de postar algo no blog!

Escolhi então falar sobre o soldadinho, que é um rapaz bravo e corajoso.
Quando era pequeno li um livro sobre outro bravo soldadinho, que nasceu sem uma perna e se apaixonou pela bailarina.


Soldadinho de Chumbo

Um soldadinho de chumbo,
desses que eu nunca vi,
mas se encontram nos livros,
avança solene e segue em frente.

Lá vai o soldadinho,
para mais uma batalha.
Esta, dizem, nem é das mais difíceis.
Dizem, também, que o soldadinho
logo estará de volta.

O soldadinho marcha e faz planos:
pintar a casa de azul,
mandar carta para a mãe
e noivar no fim do ano.

Engraçado esse soldadinho,
que faz seus planos no escuro,
e sonha mais do que eu,
do que você e do que o moço
da loja de seguros.

Sérgio Medeiros

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Amarelo

Muitas vezes eu não sei muito o que fazer ou para onde ir e tenho sempre a sensação que deveria estar fazendo algo diferente ou ir para outro lugar.

Tenho um pensamento do tipo "happiness is always somewhere else" (a felicidade está sempre em algum outro lugar), que se por um lado te faz buscar coisas novas, por outro não te deixa aproveitar muito o momento.


Amarelo

O amarelo dourado
é coberto pelo azul.

O azul cobre e descobre.

Os pés no amarelo fofo
caminham com dificuldade,
para chegar aonde
não sabem se querem ir.

Talvez sigam o vento,
que vem de longe,
e longe sempre é um bom lugar
com o qual se pode sonhar
e fazer planos,
que nunca cairiam bem
se fossem para acontecer
na vila vizinha.

Sérgio Medeiros

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Triste

Como hoje à noite não estou lá muito contente, achei que era uma boa hora para uma poesia nessa linha.

Quando leio esse poema, por alguma razão me lembro de Manuel Bandeira.


Poema triste

Queria fazer um poema triste
Que chorasse baixinho
abafando os soluços
e suas lágrimas no escuro

Um poema que falasse pouco
A tristeza, não nos permite
andar a falar.
Não essa!

Essa é daquelas tristezas
que te deixam lânguido
tristeza que faz você
cansar dos homens

Tristeza que lhe aperta
e te pede estrelas
e te pede luzes
te pede amigos
te pede amores

tristeza que te pede tudo
e te deixa mudo.

Sérgio Medeiros

sábado, 3 de janeiro de 2009

Vovozinha esquecida

Esses dias, fui visitar minha avó. Da última vez que a tinha visitado, ela não lembrava muito de nomes, mas lembrava das pessoas.

Desta vez, lembrava pouca coisa. Eu não estava entre as coisas de que ela se lembrava, eu era apenas "o rapaz".


Vovozinha esquecida

Vovozinha esquecida
não se lembra do netinho.

Mesmo fazendo algum esforço
não consegue lembrar do neto um pouco.

Não lembra que já lhe fez doces,
lhe assou bolachas
e fez suco de carambola.

Agora nem sabe
qual das filhas
é a mãe daquele neto.

Muita coisa para um dia só!
Deixe o neto, que chegou de viagem, descansar.
Vovozinha vai dormir
e com certeza sonhar
com o tempo em que os filhos eram pequenos,
que ainda não era viúva
e cuidava das suas galinhas.

Amanhã, netinho, vou lembrar
você não perde por esperar.

Sérgio Medeiros