sexta-feira, 26 de junho de 2009

Sobre sonhos e adornos

Alguns sonhos, talvez existam para não serem realizados. Mas são tão bonitos!

Adorno

Naquela manhã,
já não tinha o mesmo,
o largo sorriso.

Nem fazia o café
da mesma maneira.

Os cabelos também
pareciam desalinhados
sob uma nova forma.

Mas os trajes diziam
que era aquela pessoa
cansada, que se deitou
ontem à noite,
após rabiscar um velho caderno
e passar a limpo vários sonhos.

Tomada de certo espanto,
ela viu que eles continuariam sonhos,
e enfeitariam outras existências.

Ao ir dormir, ela retirou aquele adorno.
Estava cansada.
Queria um sono puro.

Sérgio Medeiros

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Agora falando de rosas

Bebi o dia

Bebi o dia,
bebi a noite,
sorvi em suaves goles
todo o copo da esperança.

Pensei em ti de dia,
escrevi carta à tarde,
e sonhei que contigo
dormia toda a noite.

Fiquei assim um dia,
fiquei assim outro dia,
esvaziei tudo que tinha,
até um restinho de alegria.

Agora ando meio triste,
não dou comida ao cachorro,
não escovo os dentes direito,
nem me animam as moças que passam.

Me sugeriram um passeio,
uns dias de veraneio,
remédios para o espírito,
e procurar um curandeiro.

Decidi plantar um canteiro,
e ter rosas no jardim.
Agora tenho a beleza que quero
bem aqui perto de mim.

Sérgio Medeiros

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Outra chuva

Gosto de olhar a chuva caindo. Algumas pessoas correm, outras não dão bola. Para alguns, chove todo dia. Para outros, chove de vez em quando. Para outros mais, quase nunca chove.

Saudade da Chuva

Sinto saudade da chuva
como de um passatempo.
Não planto, não colho,
não anseio sofregamente.

Seria um encontro bom,
sem mãos frias,
angústias, exigências mútuas,
decepções mútuas.

Uma relação calma,
com pequenas agitações,
como ondas de lagoa,
como um sono bom.

Sérgio Medeiros