quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Lá vem a poesia soprando

A poesia passa
como um vento
que varre
as folhas das árvores.

Algumas se deixam levar
e vão balançar
ao sabor do vento,
andar por muitos lugares
e quem sabe
nunca voltar.

Outras ficam por lá,
e caem no chão,
tendo um breve momento
a saborear.

Outras folhas
nunca caem.
E contam muitas histórias
de quem ficou e partiu.

De quem o vento levou,
de quem o vento deixou,
daquela noite bonita,
num dia que fez tamanha ventania,
que até a folha mais firme
se deixou levar pela poesia.

Sérgio Medeiros

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Um dia para mandar notícias

De tão longe

O dia talvez seja de tédio,
de tépidos raios de sol.
Talvez seja um dia
dos homens verem futebol,
das mulheres ligarem pra mãe,
contar como vai a vida,
dizer que o dinheiro vai dando,
e fazer planos pra quando voltar.

Mas não se pode contar
tudo para as mães,
elas ficam preocupadas,
e uma ligação de tão longe
não é pra deixar ninguém preocupado.

É pra dizer que se vai vivendo,
e que se está com saudades.
É pra sorrir das pequenas aporrinhações
que sua mãe conta e que você,
se estivesse lá, ficaria irritado.

Mas uma ligação, de tão longe,
não é pra deixar ninguém irritado,
é pra dizer coisas boas,
e tentar ter a ternura,
que já não temos, quando tão perto.

Sérgio Medeiros

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Na companhia da solidão

Comigo a solidão

Nesse momento,
eu manteria
comigo e em mim
essa larga solidão.

Ela não me deixa triste,
não me faz voar,
não me faz dormir.

É tão grande.
É tão inútil.
Explica-se por si mesma.

Não a almejo nem a evito,
apenas com ela permaneço.

Ela é grande e me enche.
Quiçá, me completa.
Olho-a, como um amigo,
desconfiado de sua simpatia.

Amanhã, talvez,
nos daremos os braços,
ganharemos dinheiro, ternura e leite.
Amanhã...

Sérgio Medeiros