sábado, 20 de dezembro de 2008

Uma coisa comum

Catadores de latas são bem comuns, principalmente em lugares como a Lapa, onde muitas pessoas ficam bebendo na rua.

Eu tinha começado essa poesia e deixado em cima da mesa, junto com outros papéis, quando um amigo a achou e comentou que gostaria de ver quando terminasse.

Se ele não se importar com o fato do lugar ser azul, e não vermelho, vai poder ver agora :-)

O catador de latas

O catador de latas
junta uma a uma,
às vezes com paciência,
às vezes sem,
todas as latas no seu caminho.

O caminho,
não é ele quem faz,
mas as pessoas animadas
que bebem nas calçadas.

Onde estão as latas,
é para lá que vai o catador,
que segue os passos dos outros.

Para onde iria
se pudesse decidir
que caminho tomar,
acho que ele já nem sabe mais.

Sérgio Medeiros

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O pedido de um amigo sendo logo atendido

Hoje (na verdade ontem pela hora) achei engraçado quando
um amigo me perguntou: Mas por que tem tão pouca rima nas poesias?

Bom, talvez mera coincidência só. Mas de fato algumas são quase
sem rima, em parte porque não procuro seguir muito a linha ouvires,
como Bilac, e em parte porque não conseguiria nem se tentasse.

Eu gosto de poesias com rima, mas gosto de poesias sem rima também
e acho que elas têm de certa forma uma beleza diferente, já que não se
conta muito com a ajuda da sonoridade ou do jogo de palavras.

Atendendo a pedidos, vai uma poesia com mais rimas.

Na ânsia de você

Na ânsia de você,
eu te cerco.
Que tolice!
Você nem ao menos
me quer por perto.

Na ânsia de você,
eu te busco.
Tão inútil!
Eu sigo só
e ainda mais fútil.

Na ânsia de te ter,
te perco mais um pouco.

Na ânsia de um abraço
de você só me afasto.

Na ânsia do teu beijo,
já nem sei se tenho rima
pra falar do meu desejo.

Sérgio Medeiros

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Atendendo a pedidos...

Bom, as poesias românticas nem sempre têm um final feliz. Na verdade, quase sempre
é sobre a separação :-)
Esta é uma que tem final feliz (ou pelo menos eu imagino um)


Maria e João

Maria, tão tonta,
não pode demorar,
que a festa já começou.

Precisa ficar bonita.
Precisa encontrar João,
antes que outra moça o leve.

João espera,
Maria tonta,
Maria bonita.

Ele se casaria com ela,
por tão menos beleza,
tão menos aprumo,
tão menos esmero.

Casaria por Maria,
só isso.
E achava que não
precisava de mais.

Maria, tonta,
nem pensava,
e se arrumava,
com medo de perder o João.

Sérgio Medeiros

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Aproveitando o gancho

Bom, aproveitando o gancho do post anterior, resolvi colocar
esta poesia, que também fala sobre quando o amor acaba.
Essa já é bem mais antiga e o tema é velho.
Eu lembro quando era menor e ia na missa, ouvia o padre
falando do fim do casamento no sermão.
Eu pensei no tempo, que geralmente é remédio pra tudo,
mas nesse caso está mais para o vilão da história.

E o amor acabou

O marido velho
e barrigudo,
que procura
nas moças novas

o viço que
sua esposa
talvez já não tenha,

um dia também foi
um namorado apaixonado.

Caminhou de braços dados,
sentiu frio na barriga,
mandou rosas, deu bombons,
e jurou amor eterno.

Pelo caminho,
o amor parece que ficou,
e não chegou
na meia idade.

Se perdeu pela cidade,
andou em vão.
Fez poesia,
faltou rima.
Já não diz: coração!

Sérgio Medeiros

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Quando o Amor Acaba

Estava lendo esses dias o livro Quando o Amor Acaba, de Silvio Ribeiro de Castro, do qual gostei muito por sinal. Quem quiser saber um pouco mais, pode ir aqui: http://www.libre.org.br/titulo_view.asp?ID=5223

Não sei ao certo se influenciado pela leitura, ontem estava sem sono e acabou saindo uma poesia onde aparece pela primeira vez um "amante".


Olhou o quarto e, desconfiado,
perguntou-se se havia algo diferente.
Pensou na luz,
nos móveis
e nas bolinhas do lençol.

Contou porém as mesmas 543,
redondas como da outra vez.

Se não mudaram as bolinhas
quem sabe as litras do pijama...
Eram verticais ou horizontais?
E esse bolso, já existia?

Já quase conformado
descobriu o que o afligia:
era a falta da mulher
que com o amante fugira.

Sérgio Medeiros

sábado, 6 de dezembro de 2008

O Homem Sem Tempo

Essa já segue um estilo mais lírico da coisa, se é
que eu posso dizer isso :-)


O Homem Sem Tempo

O homem sem tempo
caminha reto pela rua
e olha para o relógio no braço
calculando o tempo que perde
a cada sua passada.

O tempo é medido, é contido
e não se perde com coisas bobas

Trinta minutos pra almoçar,
vinte pra chegar ao trabalho,
quarenta e oito pra assinar papéis,
e mais dez pra ler poesia.

O homem sem tempo está preocupado,
perdeu dois minutos hoje procurando os sapatos.

O homem sem tempo,
já não gosta de mais nada, nem tem tempo...
mas repete os mesmos passos
e já nem se lembra do tempo
em que tinha tempo
pra fazer qualquer coisa
com o momento.

Sérgio Medeiros

domingo, 30 de novembro de 2008

A Vendedora

Esse já é um poema bem mais novo. Eu acho que ele retrata bem o comentário de um amigo, que falou que alguns dos meus poemas eram como "historinhas"

A Vendedora

A hora corre depressa.
Os ponteiros estão quase lá,
a marcar o começo de algo.

Nos passos apressados,
sobra pouco tempo
que é gasto desviando-se.
São tantos vendedores
mas vendem todos
a mesma coisa: "Água,
cerveja! Guaraná! Mate!"

E é na voz, ou no grito,
que se faz a diferença.
Os vendedores são jovens
e a disputa é acirrada.

Entre eles, já não tão nova,
também há uma vendedora.
Não fala, não grita,
nem parece ter pressa.

Só olha um a um os transeuntes,
que passam e passam.
Ela então ameaça um gesto mais brusco...
Que nada! Era só uma mecha de cabelo,
que ela foi arrumar.
As pessoas, nem reparam,
e continuam com pressa,
a passar.

Sérgio Medeiros

Fim

Pelas minhas lembranças, esse foi o meu segundo poema.
É um pouco melancólico (como a maioria).
Eu sempre fico matutando sobre o final da poesia: "para se extinguir."
No fim, acho que soa um pouco estranho mesmo, caso contrário eu não ficaria
pensando a respeito.


Fim

No dia dos seus anos
Lá estava ele
Alinhado na sala
Diante de todos

Seu filho na cadeira vazia
Sua mulher por aí
A família distribuída
pelos espaços em branco.

E sua vida em cima do bolo
Diante de si
Queimando lentamente
Sem pressa de acabar

Tentando se prolongar
Quem sabe até chegar alguém
Que possa fazê-lo existir
Hoje talvez não seja
Um bom dia para se extinguir.

Sérgio Medeiros

Grande Inauguração!

Tá, o título é um pouco pomposo, mas um pouco
de exagero de vez em quando é bom.

Há alguns anos atrás, eu tentei rabiscar uma poesia.
Saiu alguma coisa e de vez em quando eu tentava
rabiscar mais um pouco.

Nesse meio tempo às vezes você pára, às vezes você
se anima, às vezes pára de novo...

Como o momento atual é mais de animação, eu resolvi
criar o blog, com o mesmo título de um site que fiz
há quase 10 anos atrás (me sinto velho ao escrever essa frase).

Poucas pessoas além de mim leram as poesias e eu sempre fico
naquela apreensão/curiosidade enquanto a pessoa lê.

Sintam-se convidados a comentar sempre que quiserem :-)

A idéia é publicar algumas poesias antigas e talvez alguma
nova que apareça ou alguma que eu goste, mas por enquanto
serei o autor exclusivo do blog :-)