quarta-feira, 29 de junho de 2011

Cotidiano

Os dias
se repetem
e os ponteiros
marcam sempre
o mesmo lugar.

Em casa,
às sete,
tomo banho,
bebo café,
calço os sapatos
e vou pro trabalho.

No trabalho,
às dez
espero onze,
às onze
espero doze,
e às doze
saio pro almoço.

Volto ao trabalho
e espero a hora
de ir pra casa.

À noite,
em casa,
eu leio livros
que falam de outros lugares
mas não explicam
como chegar lá.

Deito quando os ponteiros
estão quase juntos,
e durmo sem vontade
de acordar.

Sérgio Q Medeiros

segunda-feira, 20 de junho de 2011

O baile

Com o princípio da chuva
as pessoas procuram abrigo
e se descobrem juntas.

Algumas pessoas,
como velhas companheiras,
permanecem próximas
sem fazer uso das palavras.

Outras revelam a admiração
de um primeiro encontro.
Conversam sobre o tempo,
sobre filmes e, quem sabe,
um cinema no fim de semana.

Mas de repente, tal qual
a orquestra de um baile,
a chuva para e separa casais
que foram quase eternos.

Sérgio Q Medeiros

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Beleza

Com cada filho
deixou um pouco da beleza
e já não era
a moça bonita que fora.

Melhor deixar
a beleza pros filhos
do que desperdiçá-la
junto aos homens.

Homens que iam deixá-la
quando perdesse a beleza.

Não investia em homem,
não valia a pena.
Melhor deixar a beleza
pra quem não deixa a gente.

Sérgio Q Medeiros