quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Estação Central

Diálogo entre passageira e motorista:

Passageira: - Bom dia!
Motorista: - Bom dia!
Passageira: (Tom acusatório) Você não está me reconhecendo?
Motorista: (Dando de ombros) Não senhora.
Passageira: (Esboçando indignação) Mas eu pego esse ônibus todo dia!
Motorista: (Suspirando) Minha senhora, essa linha tem 42 carros.


Estação Central

Os ônibus formam uma longa fila
e abrem suas portas
para os recém passageiros,
que mal embarcaram
e já estão ávidos por chegar

Fosse noite passada
e os passageiros estariam todos molhados
com a grande chuva que caiu

Mas hoje, na estação central,
eis que estão só cansados
e o uniforme de ontem ganhou folga,
passou o dia no varal.

De mais a mais,
não é uma simples chuva
que vai parar o progresso
ou impedir o regresso.

Sérgio Medeiros

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Sobre títulos

Terminada uma poesia, chega a hora de dar um nome.

Um maneira de dar um nome é não dando um nome, apenas números como "Soneto XXXIII".

No começo eu sempre tentava pensar em um título. Depois comecei a ter uma falta de idéias para os títulos e a me perguntar se os títulos que eu estava dando eram bons.

Aí me dei conta de uma terceira estratégia, onde o título da poesia é simplemente alguns dos seus primeiros versos. Achei esse um bom meio termo entre simplesmente enumerar e inventar um título.


Por uns dias de verão

Por uns dias de verão
eu mudei de estação
e até por alguns passos
me arrisquei na contramão.

Deixei de levar comigo
as mesmas coisas costumeiras
e até mesmo pimentão
já não compro mais na feira.

Desisti de ir na missa
e recorri a uma rezadeira
que promete me curar
usando ramos de oliveira.

Depois comprei um cão,
para servir de companhia
enquanto o tempo não muda
e cai uma garoa fina.

Eu sento e assisto TV,
vejo filmes de ação,
espero enquanto não chegam
os meus dias de verão.

Sérgio Medeiros

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Dia chuvoso

Hoje foi um dia muito chuvoso.



Lembranças

A saudade
nem sempre escolhe lembranças bonitas.

Ela escolhe um rato,
Uma noite fria,
no escuro...

Às vezes
recorda um córrego sujo,
E meninos sujos,
correndo na chuva.

Sérgio Medeiros

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Adeus Pavão Dourado

Em algum dia de domingo eu vi o programa Caminhos e Parcerias da TV Cultura. O tema era trabalho infantil e uma música da trilha sonora que ficou na minha cabeça se chamava Adeus Pavão Dourado.

Este é o link para o programa desse dia:
http://www.tvcultura.com.br/caminhos/11sisal/sisal1.htm

Adeus Pavão Dourado

A menina, sem bonecas,
brincava então com pedrinhas.
A maior delas era o pai,
a mais clara a mãe,

e a menor,
era ela mesma.

A pedrinha pequena
tinha as mãos calejadas
e não devia
ter que trabalhar.

Era uma pedrinha
de oito anos,
que passeava
com a pedra grande,
de bicicleta,
aos domingos.

Ali a pedrinha sorria
e até se esquecia,
de lembrar,
que nem é bom lembrar
certas coisas.
Que mal dormir ela podia,
porque amanhã cedo ela ia
bater pedra com um martelo
para ganhar uma moeda
quando findasse o dia.

Sérgio Medeiros