quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Uma mão procura a outra

Uma mão,
procura a outra
para atravessar a rua.

A outra,
não procura,
e se esconde.

Os corpos,
quem sabe, livres,
quem sabe, solitários,
atravessam,
já um pouco distantes,
a rua.

Sérgio Medeiros

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Uma partida pela saudade de voltar

Eu quero seguir
para uma pedra alta,
uma praia sem ondas,
uma floresta de árvores silenciosas.

Eu quero fugir
para longe dos passos
e desses dias
onde tudo é só cansaço.

Eu quero me unir
ao desejo,
quase satisfeito,
que dorme para não arrefecer.

Eu quero ir
e deixar a mesa posta,
pois se parto
é pela saudade de voltar.

Sérgio Medeiros

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Muito pouco pra se dividir

A mãe não sabe,
mas apareceu um moço,
querendo aparentar bons modos,
perguntando por ela.

Disse que eram amigos
do tempo em que a mãe
morava em outra vizinhança.

A menina,
filha única,
que morava só com a mãe
e nunca via direito o pai,
preferiu não contar
da visita que aparecera.

Já com tão pouco,
pensou ela,
e ainda ter que dividir
com gente estranha.

Pousou então os olhos na mãe,
satisfeita de tê-la só para si.

Sérgio Medeiros

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Sobre o que às vezes fica do amor

Às vezes do amor
fica só a conveniência
e umas tantas relações
já bem estabelecidas.

Fica uma sogra pra visitar,
um amante para gozar
e muito pouco
do que levou até ali.

Às vezes fica só
um filho pra se criar,
uma casa para dividir
e algumas panelas velhas.

Ficam retratos coloridos
lembrando de alguém
que foi tão próximo
e hoje é quase estranho.

Sérgio Medeiros