quarta-feira, 29 de abril de 2009

Açude

Açude é uma palavra que faz parte de mim. Onde eu nasci, em época de inverno, quando chovia vinha logo a pergunta: E o açude? Tá cheio?
Para mim, um açude diz muita coisa.

Pequenos Relatos

Confesso que estou
um tanto quanto
desanimado.

Deve ser
coisa do tempo
que anda frio e fechado.

Mesmo assim,
não chove
para molhar um pouco
o velho açude,
que já foi grande
e hoje anda pequeno,
que nem gente velha,
que vai minguando com o tempo,
até ficar sem importância.

O velho açude cheio
já é quase uma saudade.

Mas saudade não é açude,
que vai secando quando não chove.

Em todas as estações,
a água, para a fonte da saudade,
sempre e calmamente escorre.

Sérgio Medeiros

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Sobre os homens

As pessoas estão todas por aí, mas quem consegue achá-las?

Busca

E num relance
você não pode hesitar.

Não perca a chance,
e se deixe
perder um pouco também
junto aos homens.

Procure-os por toda parte.
Anúncios, cartazes.
Grandes luzes que
acendem e não acendem.

Espere-os sob a chuva,
na porta do teatro,
e na esquina da rua,
sob o poste apagado.

Na cozinha de casa,
com uma xícara de leite quente.

Se os encontrar,
não diga nada.

Sérgio Medeiros

terça-feira, 14 de abril de 2009

Sala de Espera

Nada como uma ida ao dentista ou ao cabeleireiro (meu pai diria barbeiro) para ler revistas de fofoca e se atualizar sobre o mundo das celebridaes.

Sala de Espera

Numa dessas salas
em que todos esperam algo,
sempre há um cheiro de tédio
e revista de fofoca.

E há pessoas com seus rostos
enigmáticos, que parecem
querer não demonstrar nada,
e dizer apenas que estão aguardando,
sem vontade, sem pressa,
sem receio e nem anseio.

Mas, um dos rostos descuida-se
e, num movimento rápido,
deveras revelador,
deixa ver uma meia infantil,
dessas que eu compraria,
se tivesse uma filha de seis anos.

Fico então a imaginar
os filmes que esse rosto vê,
e os livros que gosta de ler.
Agora, somos quase íntimos.

Sérgio Medeiros

terça-feira, 7 de abril de 2009

Super pra cima

Andei consultando o caderno em busca de algo mais "animado" para colocar aqui no blog, embora deva confessar que não foi uma missão muito fácil.
Bom, abaixo segue a escolhida :-)


O Mar entre as Montanhas

O mar entre as montanhas
é quase sobre.

Num lado,
se sobe ao céu.

No outro,
se desce ao mar.

Entre subir e descer,
é uma delícia continuar,
seja descendo a serra,
seja subindo ao mar.

Os pássaros estão indecisos,
esperam e pensam um pouquinho
para aonde querem voar,
se para cima da serra,
ou para dentro do mar.

Um peixe vem se queixar
que, se pudesse também voar,
não subiria as montanhas,
nem desceria ao mar,
mas pousaria na praia
e ficaria a descansar.

Sérgio Medeiros