domingo, 17 de outubro de 2010

O homem e o medo

Um cigarro,
na calçada,
queima lentamente.

O homem,
perto do cigarro,
não fuma,
mas tem medo.

Numa tarde,
voltando da padaria,
ao atravessar a rua,
o homem sentiu medo.

O homem sentiu medo
de seguir com o pão adiante,
de olhar os outros homens,
de beijar a sua mulher.

O medo,
antes da noite chegar,
às três e meia da tarde,
tornou-se parte daquele homem.

Um homem
que já não bate na mulher,
não leva a filha à escola,
nem corta seu próprio pão.

Um homem
que apenas se arrasta,
e é um escravo livre
do seu próprio medo.

Sérgio Medeiros

2 comentários:

Hisham disse...

Reação de Alexandra após a minha leitura do poema: "Nossa."

Sérgio Medeiros disse...

Assim vou te chamar pra um livro falado :-)