Um cigarro,
na calçada,
queima lentamente.
O homem,
perto do cigarro,
não fuma,
mas tem medo.
Numa tarde,
voltando da padaria,
ao atravessar a rua,
o homem sentiu medo.
O homem sentiu medo
de seguir com o pão adiante,
de olhar os outros homens,
de beijar a sua mulher.
O medo,
antes da noite chegar,
às três e meia da tarde,
tornou-se parte daquele homem.
Um homem
que já não bate na mulher,
não leva a filha à escola,
nem corta seu próprio pão.
Um homem
que apenas se arrasta,
e é um escravo livre
do seu próprio medo.
Sérgio Medeiros